Publicações


IMINÊNCIA

É só acordar e perceber que novamente todas as portas para eu seguir adiante estão fechadas. E isso me deixa totalmente inerte à vida e cada dia que vivo percebo que não consigo encontrar meios para chegar à luz. Muitas vezes nunca sei quando é dia ou noite, simplesmente não enxergo a minha existência e sofro com isso e assim minha alma embrutece  e parece perecer a cada segundo. E como num devaneio de cores e formas inexplicáveis sinto a felicidade e de repente vejo que era apenas um sonho fantasioso  que me deixava leve e radiante e que acordo com a certeza de que a luz não chega  a minha alma e assim permaneço preso, solitário e agonizante. Somente as poesias me libertam por um instante, portanto não posso para de escrever. (alucinado) quando faço isso me distraio e pareço viver realmente uma vida. Mais pra que serve a vida? È tão difícil compreender. (de pé fica girando muito lento, pega um papel e solta e observa ela caindo) Porque viver é tão complicado? Porque sonhar é fácil, tão gostoso, tão surpreendente e maravilhoso?  (agitado)E realizar os sonhos é tão... Tão... Sei lá. Queria que a vida fosse que nem uma jangada que sai em busca do horizonte do mar. (brusco) Mais é! Viver como uma jangada é ter êxitos e derrotas, coragem e medo  e ir de encontro a algo sem certeza de chegar. Em vez de uma jangada, como seria bom que viver fosse tão simples como um barco de papel, livre, sem preocupação de chegar, de ser, ter ou estar , mas simplesmente confiante de que existe. (pegando barcos de papel) Mas a vida é como um barco de papel! Alguém lhe dá a vida, depois lhe encaminha à vida e muitas vezes o abandonam ou simplesmente lhe tiram a vida. E nesses caminhos por onde o barquinho passa, leva a bordo outras vidas, umas claras, outras coloridas, cintilantes e até escuras e com isso o branco do papel não já existe mais. E tudo se mistura até escurecer e parecer ser sujo. ( meio eufórico) por isso escrevo para me purificar. Como seria bom se não pensássemos e apenas vivêssemos, acho que seria bem melhor. Talvez fossemos verdadeiros. Mas não posso esquecer de que estas portas fechadas me irritam e me fazem sofrer. (sofrido, pegando as folhas de papel, rasgando-as amassando-as) Sofro tanto, a cada segundo, a cada minuto e o tempo não passa, parou e me maltrata. Por isso preciso da liberdade, luz, somente quando encontrá-la  saberei de onde vim, para que eu vim e para onde irei. E a cada dia eu escrevo e minha mente não falha, isso mostra que estou vivo e ressalta a existência da luz. (pegando as folhas e algo para escrever) por isso teço poesias, talvez realistas, naturalistas, surrealistas, dadaístas, simbolistas, trovadorescas, líricas, parnasianas,  cubistas, românticas, mas todas concretistas e fidedignas a  minha alma que se encontra inerte e abalada. E parece que com o vento o meu lume já não existe mais. Por isso eu preciso que as portas sejam abertas, escancaradas  para que eu sinta a presença da liberdade e que ela me arrebate e me leve de encontro a paz. Aí eu imploro, por favor, não me fechem as portas, não me maltratem mais, eu quero ver a luz radiante, colorida cintilante, por favor, eu não agüento mais, não tenho mais forças, sinto-me fraco. Não sou perene. Pelo menos, me deixa navegar nesse barquinho de papel que viaja nesse leito de luz e que um dia  vai de encontro a água do mar. Estou cansado, arrasado e nem escrevo poesias, elas estão se acabando junto com meu sofrimento. E a cada dia me entrego e forças eu não tenho mais. E meu sangue se esvai, como álcool ao vento modificado de sofrimentos. E como nunca sei se hoje é noite ou dia, minha essência parece se entregar profundamente a uma escuridão perene que há muito venho combatendo. Por isso agora irei adormecer no leito dessas folhas que são um pouco de mim um pouco de vida, talvez felizes, ou sofridas. E quando acordar no outro dia, espero encontrar a luz que não sei se importa qual será a cor, mais que guiará  minha alma por toda uma existência. 
Texto: Emerson Gomes

Um comentário:

Janilson e Rebecca disse...

Tá lindo... Muitas palavras são ditas e nelas muitas emoções...